terça-feira, 19 de outubro de 2010

Como é duro usar "busu"...

Ninguém merece andar de "busu"!

Se bem que, meu mestre de Aikido costuma dizer: "--- Todo castigo é pouco, pra quem anda de ônibus!". Bom, então, na opinião dele, ao menos uma coisa eu mereço: muito castigo. E, realmente, é o que eu estou tendo. E muito! E o castigo vem de todos os lados. Uma hora, é o motorista que, de vez em quando, dá aquela freada brusca, aparentemente, para ajeitar a carga (de gado, deve pensar ele). Noutra hora, é um cobrador maluco, que passa a viagem contando, bem alto, as suas histórias e xingando tudo quanto é motorista de carro pequeno que entra na sua frente. Mas, campeão, mesmo, é passageiro pirado. Noutro dia, tinha um senhora no busão que, sem mais nem menos, começou a falar, a todo o volume, no seu celular:

--- Jocicleide, o que que cê tá dizendo? Comé que é? O gás acabou? E agora? Aí em casa num tem dinheiro pra comprar outro, não! Eu num quero nem sabê. A culpa é sua, que vive fazendo aqueles bolos solados, que ninguém guenta comer! Se o feijão azedar, por causa disso, eu vou te arrebentar. E quando eu comprar outra botija, vou dar um jeito de botar um cadeado nessa merda de fogão. Quero ver você ficar esquentando comida toda hora, fazendo chazinho pra emagrecer e cozinhando aquelas porcarias de prata vagabunda, que você compra no camelô. E tem mais: o dia que eu pegar você fervendo suas calcinhas no caldeirão de feijão, de novo, eu vou te dar um soco, que vou arrebentar esses seus dentes todos. E outra: vê se para de me ligar no celular, que os seus créditos tão acabando. Tchau, meu bem. Mamãe te ama.

Noutro dia, havia um camarada bêbado, praticamente dormindo, ao meu lado, e tombando, a todo instante, em minha direção. Fui aguentando aquilo calado. Depois de algum tempo, comecei a cutucar o sujeito, com o ombro, a cada vez que ele pesava sobre mim. Quando vi que não tinha jeito, como eu estava do lado do corredor, simplesmente, esperei o desgraçado oscilar com mais força e, de ímpeto, me levantei e me postei, de pé, vendo meio em câmera lenta, o bebum se estabacar, no corredor. A galera do ônibus explodiu em risada. Alguns diziam: --- Bêbado folgado! Tem que fazer isso mesmo! --- Meu Deus, pensei comigo: como as pessoas são malvadas!

Num outro dia, subi num ônibus em que já não cabia mais ninguém. Como é que eu fiz isso? Sinceramente, não sei. Mas sei que eu já não cabia, mesmo, no busão. Resultado: fiquei meio dentro, meio fora. E, o pior, no fecha-não fecha, o meu pé direito ficou agarrado na porta traseira do coletivo. Andei cinco pontos assim. Quando cheguei à sexta parada, num ponto de grande aglomeração, aí é que ninguém mais subia, porque o meu corpo estava no caminho. Então, aconteceu o pior: me apareceu uma velha, portando um guarda-chuva (em dia de sol, diga-se de passagem), para o qual ela deveria ter porte de arma, na minha opinião, e começou a tentar entrar, de qualquer jeito. Como, segundo a Física, não é possível que dois corpos ocupem o mesmo espaço, blá, blá, blá, e como, pelo visto, a velha nunca tinha estudado Física na vida, a coisa ficou feia. Ela começou, primeiramente, a gritar que queria entrar no ônibus, de qualquer jeito, porque senão iria perder o horário do trabalho. Eu, pacientemente, dizia: --- Mas, minha senhora, eu não posso fazer nada. O meu pé está preso! --- ela, além de ser analfabeta em Física, também parecia ser surda. Continuava a empurrar, sem parar e, agora, começava a me dar guarda-chuvadas. Meu Deus! Onde é que eu vim parar, ou entalar!

Mas, finalmente, comovidos com a minha situação, os passageiros resolveram tentar me ajudar. O cobrador, vendo aquela comoção popular, deixou o seu posto e, com um bocado de jeito e de força, puxou a porta e me libertou. Vocês acreditam que, depois de tudo, a velha ainda subiu indignada e me xingando? Desisti de retrucar. Apenas, quando ela esbravejou bastante, exclamei: --- Se a senhora quer continuar me xingando, então, ao menos, me empreste esse seu guarda-chuva, porque já estou enjoado de ser cuspido pela senhora. Nisso, a galera do busão pocou na gargalhada! Até que foi divertido, pra mim também. É claro, tirando a dor no pé, as cutucadas de canhão e o quase afogamento na baba da velha...

É pessoal, como é duro usar "busu"!

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